Quanto aos Santos Católicos, podemos colocá-los
muito perto das Divindades, cabendo até uma analogia muito coerente. Não por si
próprios ou pelos mesmos terem atingido a condição de divindade e sim pela
falta que faz ao ser humano o culto direto às Divindades de Deus com seus
atributos divinos. Por essa carência, surge a necessidade de adotar Santos
Católicos que tenham as qualidades, atributos e atribuições que antes eram
encontradas nas Divindades pagãs.
Isso é muito fácil de entender imaginando um
povoado “bárbaro” de cultura dominadora, agora dominado pela cultura de cunho
católico.
As Divindades anteriormente cultuadas por este
povo seriam, em grande número, Divindades guerreiras, dominadoras, justiceiras
e aguerridas. Havendo grande dificuldade em aceitar o “modelo do Cristo”
passivo e contemplativo, torna-se essencial a presença de Santos Católicos,
como São Jorge Guerreiro, com lança na mão e montado em seu Cavalo Branco
contra o dragão. O mesmo veremos em Santa Maria, mãe de Jesus, substituindo
todas as Divindades femininas que estivessem ligadas ao sentido do Amor ou da Geração.
Na religião de Umbanda, existe um sincretismo
muito forte entre os Orixás e os Santos Católicos; por sincretismo entendemos
unir qualidades de dois elementos criando um terceiro conhecido. Podemos dizer
até que é um caminho de retorno às Divindades, pois, por meio das qualidades
conhecidas dos Santos Católicos apresenta-se qualidade análoga existentes nos
Orixás. É, sem dúvida, um ótimo recurso para, mediante elementos conhecidos,
colocar o adepto de frente aos Tronos de Deus. Aquele que reconhece a mesma
essência em duas formas diferentes já está um passo mais próximo de desvendar
os mistérios divinos que regem a criação como mecanismos da perfeição.
Podemos citar o sincretismo e ao mesmo tempo somar
outros Santos Católicos que venham ao encontro desta idéia.
Trono Masculino da Fé — Oxalá — Jesus Cristo
Trono Feminino da Fé — Logunan (Oiá-Tempo) — Santa
Clara
Trono Masculino do Amor — Oxumaré — São Bartolomeu
Trono Feminino do Amor — Oxum — Nossa Senhora da
Concepção
Trono Masculino do Conhecimento — Oxossi — São
Sebastião
Trono Feminino do Conhecimento — Obá — Sta
Joana D’Arc
Trono Masculino da Justiça — Xangô — Moisés / São
Jerônimo
Trono Feminino da Justiça — Iansã — Santa Bárbara
Trono Masculino da Lei — Ogum — São Jorge
Trono Feminino da Lei — Egunitá — Santa Sara Kali
ou Santa Brígida
Trono Masculino da Evolução — Obaluayê — São
Lázaro / São Cipriano
Trono Feminino da Evolução — Nana Buroquê — Santa
Ana
Trono Masculino da Geração — Omolu — São Roque /
São Bento
Trono Feminino da Geração — Yemanjá — Nossa
Senhora
dos
Navegantes / Nossa Senhora das Graças
Podemos ainda completar esse raciocínio colocando
que até o nome de muitos santos vem em analogia às Divindades anteriormente
cultuadas como Nossa Senhora das Vitórias substituindo a divindade greco-romana
Vitória, Santa Brígida substituindo a Divindade celta do fogo Bridge, Santa
Inês substitui a Divindade dinamarquesa Yngona, Santa Sara Kali (padroeira dos
ciganos) substitui a Deusa negra hindu Kali, que surgirá de forma católica
também como a “Virgem Negra” em inúmeras catedrais européias, e Santa Ursula
substitui a Divindade eslava Orsel ou Úrsala entre outros santos e santas.
Em geral, o arquétipo do Santo em analogia à
divindade pagã já servia para a transferência da fé de um para o outro, facilitando
a conversão e mantendo a mesma manifestação da qualidade divina agora sob
roupagem católica.
Fonte: Deus, Deuses, Divindades e Anjos. Alexandre
Cumino. Editora Madras
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